Ivani Medina

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Eis a grande pergunta do século vinte e um. A questão se refere à embrulhada que o cristianismo se meteu no passado ao trazer o personagem Jesus Cristo do tempo mítico para o tempo histórico. As religiões cristãs não sabem como responder nem o que fazer agora. É o fim do caminho.

No tempo mítico o que importava era o moral da história. Esse tempo não requer confirmações e tampouco explicações para os alegados fatos como ocorre no tempo histórico. Na narrativa mítica quando se diz “Certa vez” ninguém pergunta quando, como e o porquê. O importante é o que se desenrola a partir daí.

Judas
Judas

Na narrativa histórica, quando se diz “em tal lugar, sob o governo de fulano de tal etc.” se estabelece um compromisso com os registros cronológicos e o meio circundante da época. Isto significa que se cria uma dependência indissolúvel com aquilo que se afirma e nenhuma outra forma de interpretação, senão a factual, é admitida.

Jesus Cristo estaria mais seguro e seus seguidores mais sossegados se o tivessem deixado por lá, no tempo mítico. Como um emblema da defesa da historicidade do Novo Testamento, eu diria que Jesus crucificado não pode ter base histórica apenas porque a crucificação era um castigo utilizado pelos romanos por crimes contra o Estado e alguns judeus sofreram esse tipo de castigo por sedição.

É dessa maneira frágil que se defende aquilo que no fundo se sabe que nunca existiu. Não me refiro exclusivamente ao personagem principal, mas ao todo da versão literária. Depois do iluminismo a história sofreu transformações como se libertasse da dependência religiosa, mas não foi bem assim. No que respeita ao cristianismo, esta disciplina se investiu de técnicas para levar as crianças a brincarem no quintal. A bíblia era o livro recomendado e autorizado ao seu estudo.

“Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como os meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus”. (Mateus 18:3).

Parece lógico que se essa história surgiu da bíblia, seria esta o alvo de maior escrutinação. No entanto, como só existe nela, o surgimento de um fato tão relevante no tempo histórico para o mundo ocidental deveria ser investigado em todas as suas instâncias e purgado rigorosamente das suas concepções teológicas. Ao contrário, daquilo que exige o tempo histórico, a teologia tornou-se uma ditadora no estudo da história, cuja supervisão a tudo submetia.

Diante da inevitável suspeita que desperta esse escudo protetor, os fatos nos autorizam a conclusão de que o cristianismo do século I foi concebido no século II. São os cristãos deste século que o anunciam e datam seus primeiros textos. Esse segredo deveria ser cuidado por especialistas, como foi. Depois da crença estabelecida os próprios crentes se encarregam da sua defesa. O ensino oficial daria continuidade acadêmica a essa estratégia de favorecimento ideológico e ninguém teria coragem de dizer nada, pois não seria levado a sério.

Também eram padres os professores de história. A cultura e o ensino estiveram por longos séculos nas mãos da Igreja e do protestantismo ensinando uma farsa e o ódio aos judeus. Mas, não se pode dizer que foi esta a razão do surgimento do cristianismo. Não se pode dizer que o ódio foi sua mola propulsora e não o amor ao próximo. Não se podia, porque daqui pra frente tudo vai ser diferente. Lembremos de que o Papa João Paulo II, em 2000, esteve em Israel para pedir perdão aos judeus em nome da Igreja. Os protestantes se furtaram ao pedido.

Como viver para sempre com tamanha contradição? Impossível. Então como explicar o fato sem causar danos à crença? Impossível. Historiadores cristãos já admitem o acontecimento, ainda que timidamente. Não escancaram para não chocar. Como admitir que o cristianismo começasse a morrer na manjedoura? Como explicar ao crente que tudo aquilo não passou de invenção por causa de uma disputa com o judaísmo? Que decepção para a bancada evangélica. A indústria da fé naufraga e as possibilidades de coligações também. Que bom para o Brasil!

Não sei até quando suportarão arrastar a mentira de um Jesus histórico que iniciou um movimento de gente humilde na Judéia que acabou se tornando a maior religião do planeta. Não dá para precisar a data da queda do cristianismo, mas o tombo é certo. Há sinais por todo lado no primeiro mundo a despeito das mobilizações religiosas no terceiro que já se manifesta também contra a farsa.

Embora as evidências sejam todas, ainda “não se liga o nome à pessoa”. Não defendo exatamente os judeus ou ataco os cristãos por gosto, como muitos por temor ou preguiça mental podem tentar me explicar. Defendo o direito a informação, em primeiro lugar, e não é de hoje. Entendo que pela origem da própria crença, para cristãos, isto só pode ser interpretado como um ataque. Paciência, eu não inventei nada disso.
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6 thoughts on “O que fazer agora?

  1. Ivani Medina says:

    Muito obrigado, Neusa Ferreira. As resistências nos obrigam a estudar mais para robustecer nossos argumentos. A dificuldade maior fica por conta deles. Não os desejo boa sorte, claro Desejamos mesmo é que se calem ou assumam um discurso mais aceitável. ótimo 2014.

  2. Neusa Ferreira says:

    Parábens Ivani! Seus artigos só veem somar e desnudar os véus da ignorância tão resistente das mentes que ainda insistem em acreditar em lendas manipuladoras e estrupadoras de consciencias.

  3. Ivani Medina says:

    Shinigami

    Vivemos um momento de grande transformações nesse sentido. Me agrada estar vivendo agora. Obrigado pela leitura e um ótimo ano de 2014.

  4. shinigami says:

    Podemos denotar que tudo leva a crer que as religiões manipulam as pessoas antes com a inquisição hoje com o medo de punição eterna despojando as pessoas a segueira religiosa usando uma futil emoção para convencer as pessoas !

  5. Ivani Medina says:

    Massucatti Neto

    Obrigado pelo elogio ao meu artigo. Desde 2009 venho me manifestando na Internet com a intenção de estimular historiadores e professores a revisarem essa parte da história junto aos seus alunos. Chega de ensinar mentiras em nome da fé. História é uma coisa, fé é outra. Por mais que a gente se esforce a lenda ainda se impõe como conhecimento, como o próprio entrevistado ainda o faz. Jesus não pode ter sido um camponês subversivo porque ele nunca existiu. Essa sustentação é ideológica, pois a verdade é cabeluda demais para uma cultura religiosa que vendeu a imagem de respeito e amor ao próximo.

    Um ótimo 2014.

  6. Massucatti Neto says:

    parabéns, alguém inteligente para saber que crucificação era pena dada a criminosos que atacavam o estado romano, tanto que fizeram questão de colocar cristo junto de barrabás, que era sediador e ao contrario do que falam ele foi, se foi, crucificado entre ladrões mas sim entre guerrilheiros que roubavam os cobradores de impostos, talvez para tirar a culpa dos roamanos, uma vez que foi um imperador romano que fundou a igreja catolica, constantino, eles fizeram poncio lavar as mãos(um ato judeu) e culparam os judeus, mas cristo era sim da casa de davi e se quisesse tomar a coroa teria poder genealogico para isso e para roma seria um risco pois herodes era um imbecil controlado por roma que morreu de doença infecciosa, ou seja a igreja romana tinha que fazer a historia se voltar contra os judeus, pois se cristo foi o que foi ele era sim uma ameaça ao estado romano.

    parabéns pelo artigo muito bom

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